quarta-feira, 17 de outubro de 2007


Em meu ultimo post, pra falar de marginalidade, usei como pretexto as discussões patéticas em mesas de boteco; geralmente filosofias de botequim costumam chegar a lugar nenhum.
Mas nem sempre é assim, em mesas de bar surgiram lindas canções e movimentos que marcaram a história da cultura brasileira.
Composições inesquecíveis de grandes nomes do samba como Nelson Cavaquinho, Assis Valente, Ismael Silva, Geraldo Pereira, surgiram no calor das rodas de samba nos bares da Lapa dos anos 40 e 50.
Nos anos 60, depois de um tempo de ostracismo, Cartola foi redescoberto, o jornalista Stanislaw Ponte Preta encontrou o compositor lavando carros em um estacionamento no centro do Rio. Ele e Dona Zica abriram um bar que entraria para a historia, o Zicartola era freqüentado por todo tipo de gente: sambistas, estudantes, malandros e intelectuais. Foi o iniciador de muitos artistas e idéias, ali Clementina de Jesus cantaria pela primeira vez para uma platéia, assim como Paulinho da Violai. O emblemático show “Rosas de Ouro”, faria grande sucesso com as belas canções que ali surgiram.
Outra turma, na Zona Sul, revolucionaria o cinema brasileiro. Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha, Cacá Diegues, Luiz Carlos Barreto, se reuniam em bares de Botafogo. O movimento do Cinema Novo foi fruto de discussões acaloradas em mesas de bar, tendo como líder e aglutinador o gênio criativo de Glauber Rocha, jovens cineastas dispostos a experimentar e ousar, desmascararam nossa crueldade com câmeras vertiginosas na mão e várias idéias na cabeça.
Nos final dos anos 60, Nelson Rodrigues era freqüentador assíduo do Bar Antonio’os no Leblon, com seu sarcasmo peculiar, Nelson criticava em suas crônicas as idéias esquerdistas de pseudointelectuais, que entre um wysk e outro, faziam filosofias vazias a venerar Marx e Sartre.
Aliás o Nelson me inspirou para escrever este post, acabo de ler uma série de crônicas fantásticas no livro “O óbvio ululante”, verdadeira pérola jornalística. Na coluna “Confissões”, publicada de 1967 a 68, o dramaturgo traça o panorama de uma época de forma debochada com humor negro profético e delicioso. Vale a pena conferir, aliás acaba de chegar às livrarias uma nova edição, com uma bela diagramação, bem legal.

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