domingo, 2 de setembro de 2007

Cláudio Assis e a estética cinemanovista



Fui assistir “O Baixio das bestas”, filme do diretor de “Amarelo Manga”, Cláudio Assis. As cenas do filme assustam e chocam já no inicio, a pipoca que comprei ficou entalada na garganta. O diretor mostra a degradação do ser humano, apelando para imagens fortes de sexo, estupro e violência, cenas que incomodam. Uma jovem de 16 anos explorada e mantida dentro de casa pelo avô, em um pequeno povoado na Zona da Mata pernambucana. Durante algumas noites, o avô leva a garota ao posto de gasolina para expô-la nua a troco de alguns reais. Na cidade, Everardo e Cícero, promovem orgias violentas na casa de Dona Margarida, onde moram algumas prostitutas. O espectador é provocado o tempo todo, com sexos a mostra, estupro e pedofilia. Em umas das cenas o personagem de Matheus Nachtergaele olha direto para a câmera, e diz que “o bom do cinema é que dentro dele pode se fazer o quiser”. O elenco todo está maravilhoso em interpretações que reforçam a dor e a hostilidade daquele ambiente. Dira Paes linda como nunca, o fantástico Fernando Teixeira como o avô insano que maltrata sua neta, Marcélia Cartaxo e Hermila Guedes, mostram em seus olhos a desgraça de mulheres abusadas constantemente. Aliás, a dura condição da mulher é um alerta do filme. Belas cenas em que a câmera passeia no meio do maracatu rural.
A intenção é ser visceral, chocar, com esse recurso o diretor nos leva para uma realidade distante, mas que é inerente a todos.
Sempre me disseram que Cláudio Assis seria herdeiro da estética cinemanovista, mas depois desse filme tive a certeza que não. Suas pretensoes sao outras. O Cinema Novo nunca explorou em seus filmes explicitamente, o sexo. Glauber Rocha atacou vorazmente os filmes “Je vous salue Marie” de Godard e “O ultimo tango em Paris” de Bertolucci, por causa de suas cenas de sexo. Para Glauber, quando sexo e violência são mostrados de forma descritiva, ela agrada o publico estimulando seus instintos sadomasoquistas, mas aliena quando isso é transformado em espetáculo, a violencia se insere subjetivamente na mente da pessoas.

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